A muito tempo atrás, passava eu pela estação de trem Vila Madalena, descendo da ponte Orca quando li palavras que marcaram muito, e pelo jeito ficaram marcadas, pois ainda me lembrei delas depois do tempo passar, esse texto não se encontra mais na parede enorme da estação, infelizmente tiraram de lá, mas vale a pena ler...
AMAR
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar,desamar, amar?
Sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Carlos Drummond de Andrade
Um comentário:
Amo Drummond. Amo você!
Sinto saudade das nossas conversas... andamos nos desencontrando mais que o normal, até as conversas MSNisticas tem sido raras. =(
Como está minha flor?
Bjs
Gi
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