Culhão.
Homem tem que ter culhão.
Não aquela macheza de lutador de vale tudo, nada disso. Isso aí de força física qualquer mané tem, aliás, força física é coisa de mané.
Eu estou falando de culhão, bolas.
Culhão de gostar de mulher forte e não fugir dizendo que prefere uma mulherzinha. De assumir um compromisso e não ficar se refugiando nos braços de umas putinhas de carne firme e bunda empinada quando a coisa apertar, só pra se sentir macho.
Culhão de botar filho no mundo e cuidar, e agüentar a mulher histérica na gravidez, e agüentar ver o parto sem desmaiar. E ainda ter tesão depois.
Culhão de admitir quando está errado. De bater o pé quando está certo.De encarar a vida e não se acomodar pra deixar o sangue esfriar.
De chorar quando sentir vontade, porque chorar é coisa pra macho. De se emocionar com algo mais do que futebol. De mandar tudo às favas às vezes e se mandar pra se encontrar.
Culhão de ir embora quando as coisas são irreparáveis em vez de sentar a bunda no sofá e esperar uma intervenção divina. De tentar consertar tudo quando vale a pena.
Culhão de viver as coisas mesmo sabendo que pode se dar mal no fim. Mesmo tendo certeza de que vai se dar mal no fim. A vida não tem anestesia e anda de mãos dadas com a dor.
De não rir de piadas sem graça pra agradar. De assumir o que gosta e o que não gosta mesmo que vire motivo de chacota.
De ser absolutamente devotado a algo, música ou uma mulher, sem ter pudores ou se importar com o resto do mundo.
Culhão de ir atrás dos sonhos, por mais bestas e utópicos que pareçam. E conseguir realizá-los e calar a boca de todo mundo.
De se vestir como bem entender.De tomar uns porres e dar uns vexames e fazer de novo depois.
De pedir colinho quando precisar em vez de ficar se fazendo de fortão.De resistir às tentações da carne, porque a carne é fraca, mas a cabeça não pode ser.De se jogar quando o abismo chama.
Culhão de trocar o certo pelo duvidoso sem pestanejar quando tem que ser feito, porque tem que ser feito.De não fingir.De falar em vez que ficar se esquivando. De não sumir e encarar as coisas quando devem ser encaradas.
Acho que é isso. Culhão.
Você tem culhão?
Espero que você tenha.
Ou que o seu homem tenha. Ou aprenda a ter. Se bem que isso não se aprende, é inerente. Ou você tem, ou você não tem. Espero que você tenha.
Clarah Averbuck - Carta Capital, 7 de Julho de 2004, Ano X, N. 298, p. 19.
Huahuahuahuahua...nunca as bolas falaram tanto sobre os homens...rs...texto muuuuito bom...
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